F de Final, F de Farto

Estou realmente Farto de Finais. Os tristes, os Felizes, os que nem eles próprios sabem o que são, os que simplesmente não deviam ter existido porque nunca devia ter acabado. É a revolta que se insurge no meu ser e neste momento se Manifesta com gritos, palavras de ordem e cartazes.

Estão na moda estas Manifestações espontâneas de indivíduos descontentes e está na hora de lutar contra o motim que se ergue dentro de mim. Aqui não há polícia, aqui não há grades nem bastões e muito menos balas perdidas. Não há meios nem há vontade, não há como deter estes Manifestantes.   Aqui Forma-se um corrupio de ideias, Efervescendo à medida que as soluções escasseiam, determinadas a destruir e derrotar tudo o que se atravessar no caminho. Estas avançam sem medo, criticando o passado, porque já não têm nada a perder. A minha única hipótese é deixar que este Fogo se extinga por si mesmo, causando o mínimo de estragos.

Quero mais dos Finais Felizes que só acontecem nos livros e dos Finais tristes que estão sempre a acontecer na realidade. É este contraste que nunca encontrei para a minha vida. Nunca Feliz, nunca triste, com Finais e recomeços sem sabor. Existindo, como as ideias em permanente revolução, Confinadas a um corpo móvel de vontade própria incapaz de as escutar.

Parece que tudo está pré-destinado, sem surpresas e sem desgostos, quase Formado de sentimentos. É esta história que vamos querer manter equilibrada, sem que nada aconteça, ou é melhor acontecer tudo? Mesmo quando sabemos que algo Feliz nunca é o Final, existe sempre algo triste que está para vir.

A dicotomia

São muitos os sentimentos que o meu coração expressa na hora do adeus. É um aperto no peito, são tremores nas pernas e suores frios que me deixam debilitado perante a tua presença eterna. Arrepio-me quando sei que estás a chegar, com medo de falhar mas muita vontade de consegui.

É o fim e o início, aquilo que estou neste momento a cruzar. Deixa-me triste ver-te ir e pensar em tudo o que fizemos juntos, foste parte de mim na melhor altura da minha vida, és parte de mim agora e és parte de mim sempre. Mas o relógio marcou as 12 badaladas que não podem mais ser adiada.

Nunca me esquecerei do que aprendi e do que me ensinaste ao longo deste caminho. De tudo quiseste que eu aprendesse e, claramente, não estive à tua altura. Demasiada informação, complexa, existe dentro do teu ser. A tua pele transpira conhecimento, o teu olhar arde em saber e eu, sem capacidade para absorver esse enorme fluxo de sensações, deixei escapar os pormenores importantes.

Deixaste-me realizado, mostrando-me o teu mundo e o outro. É de ti que vou ter saudades quando contemplar o céu estrelado de verão mas é por tua causa que sou quem sou, faltando-me muito para saber e conhecer. O tempo contigo passa a voar, os anos são meses, os meses parecem dias e são mais os dias de chuva que aqueles de sol. Construímos assim a nossa relação sólida, mas sabendo à partida que o fim era inevitável.

Não te consigo explicar, na hora da despedida, se te quero deixar ou se contigo quero ficar. Mas, infelizmente, não sou eu quem pode escolher e tu já fizeste a tua escolha. É o fim.

Foge-Foge

As artimanhas que encontras para escapar são elaboradas como só o teu espírito rebelde consegue criar. Jogos complexos, desejos inversos sobre águas esquecidas e repletos de reflexos estranhos, difíceis de entender, ténues vontades que não deixas escapar por entre a pele que te recobre. 

Para ti, jogar às escondidas, passou a ser uma profissão que exerces sem medo e sem fronteiras. Esguios e manhosos foram os contornos que vi passar quase sem dar conta, fugindo ao meu olhar e contornando os meus outros sentidos. Fiquei sem saber onde te foste esconder, onde desapareceste foste desaparecer no nevoeiro ou mergulhar no oceano profundo.

O rasto foi coisa que soubeste bem cobrir. Sem pegadas nem traços que me indicassem o caminho. Invisível é a única coisa que estou crente em que serás. Invisível na sombra, invisível no sol, invisível neste mundo entrelaçado de correntes e cadeados.

Não estava à espera de te encontrar de hoje para amanhã, mas os anos de procura já me deixaram demasiado exausto para correr. Procuro andando lentamente e com o esforço de quem carrega um lastro interior deixado longe no tempo e longe no espaço. Devagar só para te descobrir, para te encontrar. E se não for agora, vou encontrar-te do outro lado.


Ás vezes o amor não chega

Tudo tem o seu tempo para acontecer, a chuva, o sol, o calor e o frio. Existem épocas para plantar, épocas para regar e épocas para colher. Tudo tem o seu tempo para acontecer. Não são só as estações do ano ou as plantas que seguem um calendário certo, deixando o resto do universo à espera, sem ansiedade, porque todos sabem quando e como vão acontecer. Também os sentimentos têm uma altura para se expressar, a altura certa em que existe a oportunidade de os mostrar de os fazer vencer.


Sou tão mau a avaliar essas alturas como a tentar adivinhar o futuro, mas sei que elas existem e muitas vezes já me passaram por entre os dedos sem eu ter tido noção de que estavam a acontecer. Agora já é tarde de mais para voltar atrás. Ontem alguém, na sua inocência, me perguntava se, caso tivesse oportunidade, voltaria atrás no tempo. Foram apenas segundos de excitação para que a resposta óbvia me saísse pela boca, sim.



As oportunidades perdidas não arrastam os sentimentos. Esses ficam por muito mais tempo, sobrevivendo ao desgaste da distância e lamentando a falta de sentido de oportunidade. É estranho e ao mesmo tempo parvo saber que tudo poderia ter acontecido no momento certo mas que os "pés atrás" deitaram tudo a perder, construindo muros, erguendo barreiras. Agora é tarde demais para amar quem já ama.



A água que cai do céu

As gotas que caem do céu, a chuva, os dilúvios tímidos da natureza e as lágrimas do teu rosto são tudo variantes do mesmo elemento. A água. São elas que alimentam a mais sombria das vertentes humanas, o mais desconfortável dos sentimentos que os animais podem expressar, a tristeza. O ódio sempre suplanta a tristeza em  acções praticadas. As explosividades são mais distintas do que comparadas com qualquer outras das possíveis sensações.


São as vidas que se perdem, são as pessoas que se afastam os usuais motivos do silencio profundo. São aqueles momentos em que nos sentimos inúteis e solitários horas a fio sem que nos apercebamos da escuridão que caminha perante nós, sem vontade de desviar o olhar para a luz, que tornam o renascer a fase mais complexa da edificação da felicidade.

Dá gosto estar assim. Não sentimos que o mundo possa melhor em passos curtos e relevantes. Sentimos que não fazer nada é mais seguro do que fazer o que quer que seja. São enganos permanentes que não controlamos, esperando que alguém os venha controlar por nós, alguém que já não pode vir. É certo que o tempo cura mesmo as feridas mais profundas, mas é preciso que o magoado deixe ser tratado.

O fim ou o início

Foram muitos os meses que passaram sem ver o teu rosto. Mas agora que o posso observar outra vez, reparo que o teu olhar e o teu sorriso não mentem, és mesmo tu. Fazes-me sempre lembrar os tempos de adolescência em que éramos crianças. As tuas expressões e palavras ficaram retidas no tempo, lembrando os tempos passados. Mesmo a forma como "não" queres ficar chateada deixa transparecer a realidade das tuas emoções.

Agora, tenho que reconhecer que muitos dos teu traços deixaram marcas, mas a mulher que foi nascendo suplantou a criança, vencendo o jogo da vida. Isto é o fim, mas também. Um novo começo onde mostras a tua independência e a tua força. Segura para o que vem, de ideias bem firmes foi como te encontrei. De sentimentos construídos ao longo dos anos, sem pressa mas com vontade de novos desafios.


21 Gramas

Vinte e um gramas, o peso da alma Humana. As memórias, recordações, conhecimentos e sentimentos juntos em uma grande abstracção que ninguém ainda conseguiu encontrar, a Alma. A vida, concentrada em zonas obscuras para a ciência mas bem claras para as forças do além.

Ao longo dos tempos vamos coleccionando eventos emotivos e racionais sobre os quais exercitamos uma aprendizagem contínua, construindo a personalidade que nos define. Experiências físicas que despertam o interesse e os sentidos de tal forma que lhes dedicamos toda a atenção. São eventos sentimentais que marcam o carácter do nosso rosto e deformam a pele do nosso corpo. Eventos traumáticos têm a capacidade de reduzir a alma a uma simples essência lançada no ar ou a uma haste de incenso ardendo entre a escuridão. Os eventos racionais são aquelas que refugiam e alimentam quem não tem nenhum dos outros.

A alma, vai sendo moldada por detritos que surgem no seu caminho, crescendo à medida que os absorve, atingindo um estado de maturidade completa sem que o seu portador imagine o que está a acontecer. O espírito é efémero, mas a alma não. Ela fica, guardada, mesmo que o corpo do seu dono se reduza aos minerais dos quais é originário. A alma jaz por entre aqueles que conheceram o seu espírito, por entre as letras escritas pelas mãos escravas ou pelas aparições nominais do seu senhor. Não importa o sítio em que Ela permanece viva, simplesmente quero que recordem os meus 21 gramas de fumo da melhor forma que vos possa ser útil.


Sentido de Orientação

Por estradas, ruas e caminhos, mais estreitos ou mais largos, mais tortuosos ou mais rectos. São as formas que tenho encontrado recentemente para mover-me em direcção ao meu novo destino. Caminhos estranhos onde é difícil discernir zonas próprias que ajudam à orientação. 

Todos os trilhos parecem incertos e um beco sem saída, sem nada que os distinga dos demais e sem nada que os deixe fora do baralho. Durante as viagens decisivas existem sempre aquelas alturas em que nos sentimos algo perdidos ou duvidamos do caminho que seguimos. Parece que, simplesmente, há algo que não está certo, mas não tenho ideia do quê, porquê ou para quê. 

É nessa altura que espero. Avalio as minhas opções como um todo. Se a inversão de marcha é uma hipótese possível ou se o melhor é esperar para verificar onde termina o trajecto actual. Estou na fase do “deixa andar”. Não consigo encontrar a melhor solução para seguir o meu caminho.

Por vezes as escolhas são mais difíceis do que a realização da solução. É a arte de escolher o que está certo que torna difícil a concretização dos nossos objectivos.

Pedra Papel Tesoura

Pedra papel tesoura. São os três vértices de um só triângulo que é este jogo infernal onde só um destes objectos podemos escolher. Qualquer criança saberá dizer que a tesoura corta o papel, a pedra destrói a tesoura e o papel embrulha a pedra. Regras simples, jogo rápido, consequências complicadas.

Queres jogar? Não tem nada que enganar. Vais aceitar o convite com alguma desconfiança mas não te censuro por isso. Os homens são animais de hábitos, de vícios. Qualquer mudança à sua rotina é vista com desconfiança e desagrado. Só quando voltam a construir os seus costumes se sentem de novo confortáveis, até que algo volte a desafiar os seus actos generalizados e prolongados. Passado essa fase, vais sentir a adrenalina correr nas veias com vontade de experimentar o que há de novo. Entendes as normas, começa a contagem decrescente. As dúvidas caem sobre a tua cabeça fazendo congelar os teus pensamentos e decisões, não vais conseguir escolher.

O tempo começa a esgotar-se e tu ainda não fizeste a tua escolha. Retardas ao máximo o movimento do braço para tentar discernir um sinal do adversário que te facilite a escolha. Procuras um pulso fechado, uma mão aberta. Algo. Alguma coisa que ajude a tua decisão mas nada aparece por entre o corpo do adversário. 

Queres ter a certeza que tomas a decisão certa mas isso quase nunca é possível. A certeza matemática está fora de questão porque não tens a capacidade de prever eventos aleatórios. A certeza psicológica nunca terás porque nem tu mesmo tens ideia de onde te estás a meter. Só depois das consequências sabemos se estamos certos ou errados. Mesmo percebendo que estando errados não podemos alterar as nossas decisões e nada nos garante que, alterando, tudo aconteceria de forma diferente.

Ouves o "Já!" e é agora. Só tens 1/3 de hipóteses de acertar mas também apenas 1/3 de hipóteses de errar porque para ficar tudo na mesma mais vale não jogar.

Banda Sonora

Os meus sonhos não têm banda sonora, nunca. Não são nada parecidos com aquelas cenas de cinema onde a sonoridade acompanha as acções e os diferentes ângulos alternam ao som da música. as personagens parecem embebidas no cenário falso, simplesmente construído para a ocasião, como se toda a sua vida ali tivesse sido gasta. É tudo tão natural que não parece encenado, parece vivido.
Nos meus sonhos nada acontece  acontece tão fluídamente. Fragmentam-se as cenas consecutivas, sobrepõe-se ao juízo trazendo consigo epopeias impossíveis das quais, enquanto dormimos, nada desconfiamos. Construções incríveis da mente, fisicamente difíceis de executar, que são geradas em fracções de segundo dentro dos meus lençóis, desafiando tudo aquilo que conheço para que eu as possa percorrer desenfreadamente e pensar que são reais.
As cores esbatidas, baças, sempre com os mesmo tons, pintam as paredes , pintam o chão, pintam o céu. Na verdade, quando acordo, tenho sempre a sensação de que todo o sonho está limitado dentro de 4 paredes. Paredes pintadas de cores absurdas como se o mundo fosse um cubo finito do qual não estou autorizado a sair.
As vozes apenas ecoam dentro da minha cabeça. Eu não falo, eles não falam. Penso por mim e penso pelos outros. Invento palavras sem mexer os lábios e respostas sem ter esperar por elas. Aquilo que penso por mim é uma reprodução da realidade, o que penso pelos outros é uma tentativa de adivinhar o seu comportamento.
Os meus sonhos não têm banda sonora, não têm personagens, não têm cenários. Sou eu o construtor de tudo e o mestre do enredo. Os meus sonhos são apenas eu.

Jardins Proibidos

Deixaste-me contente com as tuas promessas de companhia para aquele dia frio onde apenas os nossos corações escaldantes podiam aquecer o ambiente. Esperei a sorrir naquele banco de jardim, gelado, feito de pedra suja e desgastada. Parecia estar ali há anos sem que ninguém se tenha servido dele mas, na verdade, o banco era o meu melhor amigo, o único capaz de suportar o meu fardo. O verde de ervas daninhas manchava o cinzento do granito Era de adivinhar que a orientação para norte não permitia que o banco se visse livre desses parasitas. Não existia uma única erva seca, tudo era verde e fresco naquele lugar onde o tempo parecia estar congelado.

Continuava, à espera, com um prazer de quem espera acordado na cama a hora de levantar. Reparei numa pequena fonte que já quase não gerava a pressão necessária para expelir água. Mesmo estando no inverno dava a sensação de ter chovido pouco por aquelas paragens embora isso contrariasse a minha teoria sobre tudo estar verde, talvez fosse do orvalho.

Aquele lugar, apesar de estranho parecia ter algo de familiar. Tinha mesmo a sensação que já tinha passado por esse momento, por aquele lugar, por aquela espera. Este déjà vu misturou o sentimento de prazer com a estranheza de quem vai cair numa armadilha mas o aproximar da hora do nosso encontro fazia desaparecer qualquer receio que se aproximasse.

Chegou a hora e já não tinha mais que observar naquele lugar por isso esperei... e esperei.


As viagens para fora da minha Terra

Consegues ter a certeza do que acontece amanhã, do sítio que te espera quando tiveres que deixar o conforto do teu mundo, a protecção das tuas paredes ? Eu não tenho.

À frente abrem-se os caminhos irregulares do meu futuro e as passagem para o outro lado, aquele que desconheço, que se apresenta sombrio. É esse o lado que também mais me atrai e no qual anseio estar em breve. chegou a hora da mudança e sinto que é bem vinda. A saturação do reinicio recorrente e do objectivo entendido (não construído) atingiu o limite. Não me consegues seduzir, perdeste toda a emoção porque o tempo é inimigo da novidade e da inexperiência. Os teus cheiros, os teus problemas, as tuas injustiças já não me magoam nem tiram o sono. Muito dizem que encontrar um amor é como despertar, para eles eu respondo que depois de despertar há sempre um adormecer. Eu acordei mas agora tenho os sentidos anestesiados.

O fim está próximo, já consigo sentir as suas consequências. Chegar ao fim da linha é começar a sentir a nostalgia, terminar cada fase e respirar de alívio par ser a última. Recordar cada momento de tristeza num segundo e cada momento de alegria num minuto. Já só tenho, antes de ir, que resolver as pontas soltas para que não haja fantasmas no futuro.

Tudo tem o seu tempo. O teu está a acabar. Só quero arrumar as ideias, limpar os ressentimentos e deixar o que tenho de bom para os que vêm depois. Sei que não vais ficar só, há sempre alguém que te entenda e queria mimar. Olho para eles, esperando por uma oportunidade e digo: Agora é a vossa vez.



O auditório

A vida, um piano de cauda à minha frente, castanho avermelhado. Castanho como este mundo sobre o qual teimo em caminhar chamado Terra. Avermelhado, apenas pelo sofrimento que contem e do qual nunca conseguirei extrair uma simples sinfonia.
Um pequeno banco, feito de um aparente veludo onde, com apenas o passar da mão, sinto que a minha pela é rasgada pelas suas fibras. Tudo isto sobre um soalho de madeira, madeira essa que teria sido um carvalho, carvalho esse que teria sido mais um ser deste planeta chamado Terra, mais uma vida ondulando ao sabor do vento. Agora apenas é madeira, morta, triste, negra, tal como o piano que reside a minha frente.
Tudo isto dentro de um enorme auditório ensurdecedoramente silencioso onde apenas existiam cadeiras vazias para ouvir o que eu não estava apto tocar naquele piano. Cortinas paradas para ver um concerto que nunca se realizaria e portas fechadas para que não penetrasse um pequeno fotão da luz das estrelas. As luzes, essas eram artificiais, tenuemente amareladas, tenuemente dolorosas que queimam a minha pele à passagem do seu brilho destruidor. Destroem a minha visão a partir do instante em que ganham vida para reduzir a minha pupila a um simples ponto.
Que auditório este, fraco, sereno, morto. Apenas contendo uma essência inútil, este piano que sangra por todas as suas teclas e do qual nunca extrairei uma sinfonia.