O auditório

A vida, um piano de cauda à minha frente, castanho avermelhado. Castanho como este mundo sobre o qual teimo em caminhar chamado Terra. Avermelhado, apenas pelo sofrimento que contem e do qual nunca conseguirei extrair uma simples sinfonia.
Um pequeno banco, feito de um aparente veludo onde, com apenas o passar da mão, sinto que a minha pela é rasgada pelas suas fibras. Tudo isto sobre um soalho de madeira, madeira essa que teria sido um carvalho, carvalho esse que teria sido mais um ser deste planeta chamado Terra, mais uma vida ondulando ao sabor do vento. Agora apenas é madeira, morta, triste, negra, tal como o piano que reside a minha frente.
Tudo isto dentro de um enorme auditório ensurdecedoramente silencioso onde apenas existiam cadeiras vazias para ouvir o que eu não estava apto tocar naquele piano. Cortinas paradas para ver um concerto que nunca se realizaria e portas fechadas para que não penetrasse um pequeno fotão da luz das estrelas. As luzes, essas eram artificiais, tenuemente amareladas, tenuemente dolorosas que queimam a minha pele à passagem do seu brilho destruidor. Destroem a minha visão a partir do instante em que ganham vida para reduzir a minha pupila a um simples ponto.
Que auditório este, fraco, sereno, morto. Apenas contendo uma essência inútil, este piano que sangra por todas as suas teclas e do qual nunca extrairei uma sinfonia.

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