Solto-te

A luz que entra pelos teus olhos faz-me reparar no brilho que as tuas íris soltam ao expandirem-se para te proteger. Esse brilho, capaz de acender os candeeiros plantados nas bermas do meu caminho agora serve para iluminar as paredes do meu quarto, reflectindo-se no espelho, aquecendo o encosto em que me deito. Não me deixas dormir porque a brisa arrasta o teu perfume mélico em direcção ao meu rosto discreto como a areia que se levanta à beira mar num dia de outono.

Deitada de olhos abertos e coração fechado aprisionas a minha atenção e desfrutas da minha insciência em relação ao teu mundo, às tuas intenções. Apenas sorris para esconder as sensações que, em outros momentos, seriam facilmente discerníveis. Suaves são as linhas que percorrem o teu corpo, visíveis em contra-luz e perfeita é a junção dos teus lábios reflectidos na janela a quando da lenta passagem de uma qualquer nuvem insípida.

Inesperadamente decides levantar-te e caminha sobre os tapetes amenos  onde passeais, pé ante pé, usando e abusando da sensualidade que te foi conferida. Dás a volta ao quarto, acariciando o fundo da cama feito de madeira escura com as tuas mãos delgadas até que, finalmente, me vens confrontar.

Agarro-te, abraço-te e, logo que caio em mim, solto-te. És apenas um sonho.




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