Feitiço


Voltaste-te de frente e o sorriso no teu rosto era inconfundível. Estavas feliz e preenchias o teu corpo com essa satisfação de maneira a que todos a contemplassem e não tivessem dúvidas. Nunca te tinha sentido da forma que estavas hoje, até o perfume que usavas tornava o ar mais doce, até a simples suavidade do teu cabelo molhado me dava motivos para não deixar de te admirar, até o som das tuas gargalhadas fazia em mim o efeito que faz uma flor a uma abelha.
Os teus paços firmes fazem ecoar o som dos teus saltos por entre os labirintos e as gavetas da minha cabeça, as formas do teu corpo fazem desenhos nos quadros da minha alma que a cor dos teus olhos se encarrega de pintar. Não me consigo defender disso, tu entras sem pedir licença e não sais porque eu quero que fiques.
Trocamos sorrisos e olhares tal como dois seres apaixonados trocam cartas de amor, mas nunca passaram de momentos instantâneos e comuns às nossas faces, entrelaçados, finitos. Entrelaçaste o teu sorriso com o teu olhar, mais tarde juntaste-lhes um toque da tua voz e um pozinho do teu sabor e deixaste o mundo à tua volta enfeitiçado. Esse feitiço duradouro deixou-me mais facilmente seduzido.
Por instantes, pareceu ter cativado os teus instintos. Mas cada vez que voltas as costas deixas de enfeitiçar o ar que te rodeia e quebras a magia que me lançaste. É nessa altura que consigo acordar do meu sono e ter a capacidade de reconhecer que o teu feitiço não era para mim, tu enfeitiças tudo aquilo em que tocas.

1 comentários:

Rubina Vieira disse...

Que lindoooo... :) Adoro o texto.... bjinho**