Culpa


Deixei cair a noite para saber até quando conseguias manter as tuas mentiras intactas, calado, triste, sem esperança de saber a verdade pela tua boca. A noite continuava a cair até ao ponto em que já estava totalmente enraizada dentro de mim, até ao ponto em que as trevas que trazia já faziam parte do meu respirar, mas a tua mascara seguia fixa Á tua cara e não parecia ter vontade de cair.
Há dias em que nunca nos sentimos bem com aquilo que somos, era um desses dias e qualquer pessoa que me dissesse o contrário era para mim uma imagem vazia. Perdia a vontade de estar acordado, deixava o silêncio apoderar-se de mim, queria dormir. Sozinho, alegre e triste ao mesmo tempo, era assim que a culpa, tua ou minha, se apoderava de mim. Em ti não sei que efeito causava, mas a última coisa que espero que sintas é indiferença porque essa já a dei aos meus olhos por eles estarem farto de responder a perguntas.
Encontrei no teu olhar o gelo da tua culpa, e perdi o calor do teu arrependimento no entanto, não ia ficar à espera da tua confissão. Procurei um espelho para ver quem era e no que estava transformado. Desejei contemplar o mesmo que estava acostumado. Ansiei que a mudança fosse nula. Tive medo do que podia descobrir, mas o sentimento de incerteza estava a corroer os meus sentidos.
Encontrei finalmente. Agoniei antes de ver a imagem. Vi. Estava lá. O meu sorriso, esse mesmo que me acompanha. Porque alguém me disse, “Enquanto alguém te faz sorrir ninguém te pode fazer chorar”.

1 comentários:

SB disse...

Sublime... como sempre!
Parabéns! Revejo-me em muitos dos teus textos e... estranhamente, gosto disso! *