Chegou a hora

Acordei. Mais uma vez acordei 10 minutos antes do despertador e está situação começa a ser algo irritante. As 7h50 que marca o relógio parecem algemas que se apertam entre o meu pulso e as barras metálicas da cama. Não sei como fazem, mas parece que sabem as técnicas furtivas de uma alcateia de leoas e conseguem sempre caçar-me antes que eu dê conta da sua presença.

Passaram 3 dias e o menor dos meus problemas são os 10 minutos que perco de sono todas as noites. A custo me arrasto para fora do quarto. A janela não me engana, mais um dia de vento em que tudo parece ir pelos ares. As folhas são arrancadas das árvores que não têm o direito de as deixarem cair. Os pedestres mexem-se, a custo, para chegar ao destino enquanto para os automobilistas é apenas um dia comum onde esperam e desesperam nos sinais vermelhos enquanto ouvem músicas sem sentido e pensam que vão chega atrasados.

São 8h30, finalmente estou pronto. Admito que sou um pouco demorado no banho matinal mas penso que é um defeito aceitável. Pouso um pé fora do alpendre e sou chicotado, tal com todos os outros, pelo maldito vento mas, ao contrário do resto, não estou certo se é ele que me dificulta a mobilidade, existe algo mais. A loira jeitosa que mora em frente claramente escolheu o dia errado para ir ao cabeleireiro. O penteado que fez ontem acaba destruído em 30 segundos. Não é que eu fique chateado com isso, agora parece mais rebelde e atraente.

Hoje estou particularmente alienado da realidade. Caminho em piloto automático, com pensamentos incertos, sem reparar naquilo que me rodeia. Estou focado e concentrado, mas em merda nenhuma. É estranha a sensação de desconforto e impotência. Ao virar da esquina sinto um cheiro agradável que emana da pastelaria flor. A vitrine parece ainda mais gulosa que o habitual e os aromas doces lembram-me do cheiro do teu cabelo molhado. Vou entrar, ainda dá tempo para um café rápido

Estou quase a chegar. São 9h00, os minutos que perdi na pastelaria vão fazer com que chegue, pouco, atrasado. Anseio por entrar dentro de quatro paredes porque este vento me está a matar por isso está na hora de aumentar o passo. 

Ali está a porta! A porta de vidro com as maçanetas prateadas que dá entrada para um pesadelo diário ou um sonho eterno. É só procurar as razões certas e é possível converter a bom em mau e o certo em errado. É incrível como a primeira pessoa que vejo ao entrar és tu. Não me estou a queixar, os meus olhos, o meu coração, todo eu no fundo, agradecem a tua existência todos os dias. Mas hoje a tua visão só me perturba ainda mais. 

Depois de 3 andares e 2 corredores vejo finalmente algo familiar, o meu lugar. Parece tudo tão escuro, alguém acendeu as luzes? Ainda mal me sentei e só consigo ouvir o bater dos teclados, gerando sinfonias ruidosas, tristes e repetitivas. Mal consigo encarar a luminosidade do meu ecrã. Dói-me os olhos, dói-me o cérebro e já vejo o chefe vir na minha direcção. Consigo ver os lábios a mexer mas não ouço as palavras, simplesmente aceno com a cabeça e digo que sim.

Não tenho espaço na minha cabeça para mais nada a não ser tu. Estou apático e paralisado. O fim da linha pode mudar muito a nossa maneira de pensar e nos últimos 3 dias tens sido o centro da minha atenção. Imagino o teu olhar e a tua pele. Quase consigo sentir a vibração do bater do teu coração e o respirar dos teus pulmões quer estejas perto ou estejas longe. É o calor do teu corpo que atormenta a minha realidade. É saber que estás tão perto mas estás tão longe. Preciso que me libertes da agonia qualquer que seja a saída. Eu sei que tu não sabes mas não aguento mais. Quero que saibas que te amo.

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