Ligação


Hoje de manha acordei para apanhar outra vez o comboio como uma criança que vai pela primeira vez em uma visita de estudo. Empolgado, nervoso, entusiasmado porque sabia que ias estar à minha espera no fim da linha. Esse espaço era a última coisa que me separava de ti mas era demasiado grande para ser sustentado durante todos os dias em que não acordava deitado a teu lado.
Liguei-me a ti. A tua voz fluía para dentro de mim por paços mágicos como os sons das cordas de uma guitarra prosseguem pelo ar sem que ninguém os veja mas todos os ouçam. Mesmo quando estas longe eu consigo sentir-te como se descansasses o teu rosto no meu ombro. Não sei porque, mas estou ligado a ti de uma forma estranha e da qual não me quero libertar.
Era essa ligação invisível que criei, que criamos e que ninguém era capaz de explicar, que me fazia sorrir pela manhã mesmo nos dias em que não apanhava esse comboio para te tocar. Não era preciso. Chegava-me os pensamentos partilhados entre ambos e os sonhos que alimentava com a tua a falta da tua presença e com a vontade de te abraçar.
Deixava-mos a nossa ligação tomar conta de tudo e esquecíamos daquilo que era essencial, as ligações não duram para sempre quando não cuidamos delas e nós tínhamos deixado de cuidar da nossa à muito e ainda não tínhamos reparado que ela estava quase a partir. Tentei com força agarra-la tal como tu também tentaste e para mantermos a telepatia viva só juntos o íamos conseguir, para não deixar o comboio parado na estação, para não deixar cair a ponte que estávamos a atravessar, tínhamos que conseguir juntos. Era tarde de mais, não conseguimos.

1 comentários:

SB disse...

"Não sei porque, mas estou ligado a ti de uma forma estranha e da qual não me quero libertar." É esta a frase que venho aqui reler várias vezes... são estas as palavras que roubei para mim (com o teu consentimento) porque sinto-as a cada minuto de todos os dias. Obrigado*