Silêncio


Fiquei quieto quando gritaste com toda a tua força e quase me espremeste dentro do meu corpo. Continuavas a gritar e toda a tua alma estremecia como as folhas de uma laranjeira num dia ventoso de inverno mas nem isso te fez parar de gritar. Paraste quando te faltou o ar e respiraste.
Depois ficou o silêncio entre os raios de sol que nos separavam naquela manhã bonita de Dezembro. Ninguém foi capaz de fazer soltar mais uma simples palavra da boca para quebrar aquele momento e o silêncio prolongou-se para lá do infinito. Estavas ofegante depois de tanto esforço, no entanto o teu olhar penetrava em mim como quem acaba de acordar e tem um “bom dia” para oferecer, um olhar que me transformou em estátua imóvel que queria dar um passo em frente mas estava congelada.
Continuava o silêncio, mas já não me sentia congelado porque o teu olhar me tinha aquecido e dado vida. O teu olhar, o teu rosto, os teus lábios, as tuas mãos, tu estavas a possuir-me com a tua beleza sem te aperceberes do poder que encerravas. Olhei-te e, desta vez, o sol, que entrava pela janela e nos separava, estava agora atrás de ti para me deixar apenas vislumbrar os teus contornos. Era o suficiente para ter a certeza que queria estar perto de ti.
Continuava o silêncio mas agora estava na hora de me mexer. O teu olhar atraia-me como um doce atrai uma criança e não tive escolha, fizeste-me perder o controlo que o silêncio me tinha conferido. Mexi-me, toquei-te, abracei-te com força e finalmente o silêncio terminou. Agora conseguia ouvir o som do bater do teu coração.

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