Esperança


A esperança não é a ultima a morrer, tu és a ultima a morrer porque não deixo que seja de outra maneira. És tu que a prendes e a vais enterrar no teu túmulo tal como me vais enterrar a mim dentro do teu coração. És tu que a guardas e que a transmites pelas palavras que não deixo escapar da tua boca, pelos olhares que não deixo escapar dos teu olhos, pelos gestos que não deixo escapar do teu corpo.


Já viste a Lua hoje? Não a deixes esconder porque para escondido já basto eu de todas as vezes que me foges como um fantasma que nasce do escuro e não tem medo da luz. Não importa nada, eu espero com esperança e sei que és igual ao sapo que se transforma em príncipe por isso vou-te encontrar, vou-te beijar e fazer transformar em princesa, tal igual à que és agora mas sem me fugires da mão desta vez.


Sapo, fantasma ou princesa não importa a forma que tenhas agora, depois de provar ao que sabes basta-me fechar os olhos e imaginar o perfume que emanas e o brilho que cintilas para invocar que no fim vais ser minha. Não quero saber quando, desde que seja já.


Espero, desespero, acredito e aguento porque quero, juro promessas impossíveis, encontro caminhos escondidos até lugares perdidos em terras de ninguém onde posso gritar o teu nome e dizer-te que espero com esperança. Locais onde posso dizer-te que estou vivo e a tua espera mesmo quando não me procuras ou quando me encontras, quando me amas e de desprezas, quando me tocas e sinto as tuas mão frias, quando me abraças e não me apertas. Mas estou vivo sempre que tu também o estiveres.

Mar

Porque levas tão longe as promessas de todos e porque são tão poucas aquelas que trazes de volta? São Lágrimas que fazem de Ti aquilo que és, são elas que Te oferecem noite e dia a cor azul da tua identidade e que alimentam sempre a tua sede de vingança, as mesmas que me caem dos olhos em jeito de choro mudo em que me envolveste.


Aqui sentado nesta pedra consigo cheirar o odor dessas almas que levaste enquanto Te viam partir e chegar mas que nunca te conseguiram compreender. Sou eu apenas mais uma dessas almas? Consigo ver daqui o pôr-do-Sol todas as tardes dos meus curtos dias, consigo vê-Lo, mas não consigo ver ninguém a meu lado que o compreenda porque tudo foi levado por ti, Mar.


Contudo, és forte demais para eu conseguir trazer algo de volta. Por mais que tente não encontro forças nas minhas entranhas, mas enquanto tento, sentado na mesma pedra todos os dias, tenho a sensação que não és tu o Forte, mas sim eu o fraco. Um dia quero ser assim, grande como Tu para poder chegar às estrelas e finalmente puxar aquela que mais falta me faz, aquela que um dia foi afogada por Ti nas tuas águas pesadas que gostas de ostentar e da qual nenhuma piedade tiveste.


Aqui continuo, à espera que um dia tragas algo que me salve e me torne mais forte para finalmente te derrotar.