A casa


Estava perdido. Já não fazia ideia como tinha entrado naquele labirinto de ruas paralelas e perpendiculares e não imaginava como sair delas porque todas me pareciam iguais. Farto de andar as voltas sem encontrar uma saída resolvi para o carro. Andava por uma rua igual a todas as outras, com casas e sem pessoas, com árvores, plantas e flores mas sem ninguém a quem fazer uma simples pergunta: “Onde estou?”.
Abri os vidros e senti o calor tórrido e o sol abrasador que inundava todo o sítio. No instante seguinte soprou uma brisa cortante, não era aquela brisa que refresca nos dias quentes de verão, era sim um ar quente que sufoca. Olhei à esquerda, estava uma casa com a porta aberta e decidi ver mais de perto.
A casa pintada de branco ostentava baixas grades verdes e um pequeno jardim por baixo da varanda em que estava a porta de entrada. Toquei á campainha e enquanto esperava olhei em volta. O jardim não estava só por baixo da varanda, rodeava toda a casa na companhia de árvores e arbustos com frutos de muitas cores e feitios. A mangueira estendida no chão e ainda molhada era seguramente o motivo pelo qual dentro daqueles muros tudo estava verde mesmo debaixo daquele calor intenso.
Farto de esperar abri o portão de ferro, estava um pouco perro e as duas portas do portão rasparam uma na outra. Ouviu-se um barulho de metal a ser limado tal como o ranger de uma porta de madeira. Tinha à minha frente umas escadas de pedra, mármore, que levam à varanda onde se encontra a entrada e em volta um passeio que rodeava a casa ao longo do jardim. Subi as escadas, lá de cima tinha uma melhor visão mas mesmo assim continuava perdido. A porta aberta foi um convite a entrar.
A casa parecia vazia, não se ouvia uma única voz e tudo parecia sereno por isso decidi continuar pelo corredor. Procurei nas salas e no quarto ao longo do corredor mas não encontrei ninguém. A meio um espelho suspendido na parede que parecia de uma época passada e reflectia o meu rosto. A última porta dava entrada na cozinha. Era uma divisão grande e mais parecia uma sala de estar do que um lugar para apenas cozinhar. Ao fundo tinha outra porta para a rua, a porta das traseiras, ouvia ruído vindo de lá e aproximei-me.
Estava uma criança a brincar num pequeno pátio e numa fracção de segundos reconheci-a. Já sei onde estou. Sou eu, e esta é a casa em que sempre vivi.