Música


Música, sons distintos que se juntam na esperança de atingir a harmonia mimetizando os harmónios puros do diapasão. Música, ruídos estridentes e gritantes misturados numa forma única de força e poder libertados em ondas sonoras. Música, o som da tua voz libertada pelos teus lábios.

Ao meu lado os teus lábios cantam melodias doces que se entranham por entre a minha carne e os meus ossos. É essa tua voz que os faz vibrar durante o tempo em que cantas para mim quando me queres enfeitiçar. Parece-me que, embora queria, não consigo deter as notas musicais que libertas. Duvido do que elas dizem porque quanto mais entranhado me sinto, mais entranhado me quero sentir. Tal como numa areia movediça vou ficando mais enterrado em cada movimento que faço para me soltar.

Deixa-me cerrar os olhos e tapar os ouvidos durante o coro das tuas canções, só assim eu encontro o espaço e o tempo para poder saborear todos os recantos das fantasias que fala e contas. Apesar de me sepultar mais fundo só assim consigo ver as estrelas do teu coração nas noites em que sobes ao palco.

No fim, quando terminas o teu acto, volto a descobrir o meu olhar e definitivamente conhecer aquilo que me trouxe para esta fantasia. Foste tu, já terminou mas ainda me sinto entranhado pela tua voz e não sei quando me conseguirei soltar. Ao lado, encontras-te com o teu olhar delicado e é evidente, agora que te toco e beijo, que ouço o bater do teu coração e sinto o sabor da tua canção.

A Ilha


Chegaste, abres a porta e sentes a diferença no ar que toca o teu rosto e nas cores que brindam o teu olhar. Esvaziaram-se as dúvidas de que chegaste ao mundo em que estavas a pensar quando decidiste partir. Agora, mesmo que já não o querias receber já é tarde de mais para voltar atrás porque o mar não te permite regressar.

Cheira a verde e sabe a mar, o ar húmido não deixa que os teus lábios sequem mas também torna este calor numa espécie de vapor ardente. Sentes-te sozinho neste pequeno pedaço de terra porque por mais seres que contemples, todos podem ser engolidos pelo mar. São estes os primeiros passos que te atreves a dar e estes os sentimentos que apenas vais libertar no momento da partida.

Segues em frente depois de ganhares coragem e entras nesse novo mundo desconhecido apenas pelo prazer de o explorar. Não tens medo, tens receio do que vais encontrar para lá da segurança da areia branca e da leveza da água transparente do oceano. Na verdade, contra o incógnito só levas a tua vida numa mão e a tua presença na outra.

Anoitece mais depressa do que esperas e o tempo parece que voa sobre a tua cabeça em direcção ao mar onde vislumbras por instantes o pôr-do-sol. Podes ver sentado numa rocha o nascer e o pôr-do-sol, o reflexo da lua no oceano, as sombras espalhadas pela areia, a água rodeando a tua imaginação… No fim de contas, estás na Ilha.